Concurso recebeu quase 500 inscrições e analisou receitas que buscassem o aproveitamento total dos alimentos. Foram distribuídos mais de 40 mil reais em prêmios ao longo de quatro meses de provas
Por: Emanuel Galdino | Fotos: Karim Kahn
21/10/201910:33- atualizado às 10:33 em 21/10/2019
Um lombo enrolado na taioba com purê de abóbora e um arroz doce com toque de modernidade foram os escolhidos pelos jurados como o menu de prato principal e sobremesa mais saboroso e criativo da final do Sesi Chef 2019. As iguarias foram preparadas por Marcelo Feitosa, cozinheiro de 31 anos, que disputou o título ponto a ponto com Valdelúcia Silva, empresária de 37 anos, na busca pela melhor comida que remetesse à roça, à vida simples no campo e à memória afetiva. Val, como prefere ser chamada a pernambucana residente em São Carlos, cozinhou um delicioso cardápio de frango com angu de milho verde e curau de abóbora com coco e, por pouca diferença, ficou na segunda colocação do concurso.
Na prova final, realizada no dia 19 de outubro no teatro do Sesi Campinas Amoreiras com a participação da torcida organizada dos participantes e público espontâneo, os cozinheiros tiveram que elaborar em 1h20min uma receita salgada e outra doce usando Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), como taioba, coração de bananeira, peixinho,Ora-pro-nóbis e capuchinha. Marcelo optou pela suavidade da taioba, enquanto Val utilizou a versatilidade do coração de bananeira. Os participantes ainda utilizaram outras PANCs nos acompanhamentos e na sobremesa.
Todos os pratos foram avaliados por um trio poderoso de mulheres que entendem do assunto: a chef Dayse Paparoto, vencedora da primeira edição do Masterchef Brasil profissionais, Cidinha Santiago, autora do livro Receitas de Comidas Típicas, e Bruna Sousa, nutricionista das equipes de rendimento de vôlei masculino do Sesi-SP.
Marcelo levou para casa um prêmio de 5 mil reais, enquanto a segunda colocada, Val, também saiu feliz com seus 3 mil reais de recompensa. Ambos os participantes ganharam um fogão top de linha da marca Atlas, patrocinadora do concurso, e acumularam outros prêmios ao longo das etapas da competição.
“Se você tem um sonho, acredite. Cozinhar é do coração, é da alma”, afirmou Marcelo logo após se consagrar campeão. Ele trabalhou por 7 anos na área fiscal e trocou o escritório pela cozinha recentemente. O cozinheiro só trabalha no ramo da alimentação hoje em dia porque percebeu que gostava mesmo da área após participar da edição passada do concurso do Sesi-SP e chegar nas oitavas de final. Vai usar o valor do prêmio para continuar seus estudos, agora na faculdade de gastronomia.
“O concurso me ajudou realmente a ingressar na área da gastronomia. A ter coragem e investir naquilo que eu quero para a minha vida. Nesta edição eu busquei conhecimento. Tinha uma cozinha muito de casa, sem o aproveitamento dos ingredientes. Depois da edição passada eu fui buscar mais informação, fui estudar, ler. Tudo isso me encorajou a estar aqui de novo”, declara o vencedor do Sesi Chef 2019, Marcelo.
Val analisou o seu crescimento na competição. “Eu me surpreendi com o meu desenvolvimento. Minha enteada me incentivou mas eu estudei bastante para chegar até aqui. Comecei pelo conceito do Alimente-se Bem, do aproveitamento integral do alimento. Pesquisei bastante receitas e adaptei algumas”, afirma a segundo colocada, Val.
O gerente executivo de Promoção de Saúde e Esporte do Sesi-SP, Eduardo Carreiro, exaltou a importância da instituição em investir e promover a alimentação consciente e sustentável e o conhecimento nutricional. Segundo Carreiro, difundir essas informações sobre estilo de vida e nutrição é essencial para a manutenção de uma sociedade saudável que possa trabalhar para cumprir seu papel no desenvolvimento do País.
Trajetória nas cozinhas do SESI-SP
No total, 465 cozinheiros se inscreveram para participar da terceira edição do Sesi Chef. A primeira etapa foi realizada em 28 unidades do Sesi-SP. Os dois melhores participantes de cada local passavam para a segunda fase da competição. Marcelo participou na unidade de Vila Leopoldina (capital), onde preparou o seu Filé Verão. Valdelúcia concorreu na primeira fase, com seu prato Sertão Simples e Saboroso, no Sesi São Carlos. Tanto os dois finalistas quanto os outros 54 cozinheiros que passaram para a segunda etapa em suas respectivas unidades tiveram suas receitas inéditas publicadas em um livro especial. Dessa primeira visita à cozinha do Sesi até a grande final em Campinas foram mais quatro batalhas (segunda fase, oitavas e quartas de finais e semifinal). Mais de R$ 40 mil em prêmios foram ofertados ao longo das etapas.
Baseado no Programa Alimente-se Bem, do Sesi-SP, o Sesi Chef é uma das poucas competições gastronômicas a propor a elaboração de pratos com o aproveitamento integral do alimento, utilizando cascas, ramas, folhas e talos. Os critérios de avaliação em todas as etapas do concurso foram sabor, escolha dos ingredientes, apresentação do prato, aproveitamento total do alimento, criatividade com que o participante propõe a redução do desperdício e o menor custo de preparação.
“Esse ano a gente quis trazer aos candidatos bastante informação referente à saudabilidade. Provas surpresas baseadas na redução do açúcar, do sódio, além do conceito do aproveitamento total do alimento, que sempre permanece. Tratamos sobre doenças crônicas não transmissíveis, obesidade, colesterol elevado e hipertensão. Portanto, os candidatos ao longo do concurso tiveram que ter muita criatividade usando temperos e alimentos que pudessem trazer bastante sabor para as preparações, já que a proposta era ter menos açúcar, sódio e gordura. Nesta final, a gente queria elaborar um exercício de volta às origens dos alimentos, que remetesse à família, à roça, ao campo, à memória afetiva, à redução dos ultraprocessados e à valorização do pequeno produtor. Espero que cada um dos candidatos e seus familiares tenham saído dessa experiência com um pouco mais de conhecimento”, explica Michelle Martins Bedolini, especialista em nutrição do Sesi-SP.
Sobre o Alimente-se Bem
Criado pelo Sesi-SP em 1999, utiliza os alimentos integralmente e tem como proposta realizar refeições saborosas e nutritivas sem gastar muito. Seus princípios foram determinados a partir de pesquisas realizadas por nutricionistas da entidade, que observaram hábitos alimentares de trabalhadores de indústrias do estado.
O levantamento detectou grande desperdício de partes importantes dos alimentos, na maioria das vezes por desconhecimento de suas propriedades e possibilidades culinárias. A partir dessas informações foram desenvolvidas receitas que utilizam cascas, talos, folhas e ramas e dão origem a pratos saborosos, saudáveis, nutritivos e econômicos.
O programa se desenvolve por meio de cursos gratuitos em Cozinhas Didáticas ou unidades móveis instaladas no Estado. Sua organização capacita merendeiras e profissionais da área de alimentação de entidades públicas e privadas, universidades, prefeituras e organizações não governamentais. Devido ao seu trabalho que é exercido continuamente, proporciona através do acesso ao conhecimento uma nova forma de consumo mais consciente e sustentável.
Nem todos conseguem realizar suas refeições com equilíbrio, conciliando os prazeres da mesa as reais necessidades do organismo, seja por desconhecimento da função dos alimentos ou limitações no orçamento doméstico. Por conseguir quebrar essas barreiras, levando informação às pessoas, o projeto ganhou projeção em outros estados do país e em 2008 foi reconhecido internacionalmente por levar as infinitas possibilidades do aproveitamento integral dos alimentos para o continente africano.