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A ética educacional passa pelas esferas técnica, estética e política

O debate do I Congresso Internacional de Educação Sesi-SP aborda a escola como espaço de mediação e a educação que é feita por um professor em sala de aula

O debate do I Congresso Internacional de Educação Sesi-SP aborda a escola como espaço de mediação e a educação que é feita por um professor em sala de aula

 Por: Arlete Vasconcelos, comunicação Sesi-SP
19/09/202311:26- atualizado às 09:39 em 16/10/2023

Abrindo a programação de palestras da tarde do dia 18/9, do primeiro dia do I Congresso Internacional de Educação Sesi-SP, Rita von Hunty, Persona Drag do ator e professor Guilherme Terreri, tratou do tema Ética e Educação. Em uma conversa com duração de uma hora, iniciou agradecendo a todos, todas e todes profissionais da educação. “A nossa luta é uma das mais derradeiras pela democracia. É muito bom ver esse auditório cheio e saber que estamos também em transmissão”.

Ao se definir como uma pessoa dissidente do sistema sexo gênero, que passou pela esfera de educação e que hoje é uma educadora, a proposta de Hunty é que o eixo de debate sobre a ética na educação se coadune com a palestra da escritora Conceição Evaristo e do antropólogo Kabengele Munanga e com o show de Liniker, previstas para a sequência.

 

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Imagens divulgação por Everton Amaro

 

Nesse contexto, sua primeira citação foi o historiador da intelectualidade francês, Didier Eribon, um dos biógrafos do Michel Foucault, entre os maiores filósofos que viveu no século XX. Didier diz que o trabalho intelectual de Foucault era uma revolta contra os poderes da normalização, que são capazes de instaurar o normal e a partir daí violentar o anormal, instaurar a regra e a partir daí violentar e violar a dissidência, instaurar a saúde e a partir daí enquadrar e violentar o doente.

Autor de Reflexões sobre a questão gay, Didier faz uma ponte com outro filósofo francês, o existencialista Jean-Paul Sartre, autor de Reflexões sobre a questão judaica, que busca entender como foi possível que uma população fosse destituída de sua humanidade.

Em um parêntese, lembra da psicanalista brasileira Neusa Santos Souza, autora de Tornar-se negro, com seu mestrado de 1983, sete anos antes de Didier, que começou a ser lida 40 anos depois de sua obra ter sido escrita.

O ponto de inflexão na história da filosofia ocidental tem o objetivo que nos tornemos aptos e instrumentalizados a pensar sobre como um seleto grupo de pessoas faz parte do clube vip da humanidade - como é dito também pelo escritor Ailton Krenak: quem está no clube vip da humanidade?”.

 

Rita von Hunty | Professor, YouTuber e palestrante
Imagem divulgação por Everton Amaro

 

Para Hunty, se a escola não aplicar a ética em todas as esferas, reproduzirá todas as estruturas. Discutir ética e educação tem o papel de colocar um anteparo na barbárie. A ética é a ferramenta para organizar e regular nossas práticas para o bem comum, racionalizar e amenizar os conflitos.

O antirracismo é uma prática, a antimisoginia é uma prática, a anti-homofobia é uma prática. “Não é estrutura que produz o racismo, mas você pode participar da construção social. A ética depende de uma regulação.

Durante sua palestra, rica em referências e citações, Hunty destacou três autores que mudaram o paradigma sobre a ética. A gênese proposta por Friedrich Nietzsche de pensar o cristianismo como um modelo de aplicação e dominação político social. Os trabalhos de Karl Marx que possibilitam entender a lógica social como uma separação de classes e produtora de um estado que está a serviço de uma classe. E a psicanálise de Sigmund Freud, em nova dimensão humana, que retira a ideia de que somos senhoras e senhores de nós mesmos, já que existe o inconsciente.

Nesse sentido, a Ética Educacional é um conjunto elaborado que passa pelas dimensões técnica, estética e política. É resultado e produto dessas esferas.

A técnica trata do conhecimento. Não há ensino sem pesquisa. A estética é a sensibilidade de conhecer o aluno. É aquilo que afeta, é afeto. Saber quem é o João. Se não se sabe com quem está falando, não é educação.

Hunty cita o educador Paulo Freire, terceiro intelectual mais citado do planeta em humanidades, nas maiores universidades nos cursos de Filosofia, Pedagogia e Direito, que sempre defendeu que educar não é transferir, não é educação bancária, se constrói no coletivo.

A ética é uma disciplina filosófica, mas isso não aparta você professor de educação física, você professora de química, você professore de matemática, de entender que na sala de aula você atuará como mediador de conflitos. A ética não está apenas naquilo que é passado como conteúdo na sala de aula, mas também na forma que torna aquele conteúdo acessível”.

Por fim, a política é o contexto. Hunty explica que é preciso entender que a educação não sobrevoa as nossas cabeças, mas é fruto das nossas relações. Para bell hooks, crítica cultural, pedagoga, autora de Ensinando pensamento crítico e Erguer a voz, entre outros, uma das funções da educação é pensar prazer e liberdade.

A reflexão de Hunty mobiliza para que a nossa revolta seja uma força política, transformando as demandas em exigências. “A educação é feita por um professor em sala de aula. Sem nós não há educação”.

E, para responder à última pergunta aberta aos participantes, a palestrante conclui: “Qual o cenário que eu imagino dentro do capitalismo de emancipação? A revolução da classe trabalhadora”.

 

Rita von Hunty | Professor, YouTuber e palestrante
Imagem divulgação por Everton Amaro

 


I Congresso Internacional de Educação SESI-SP
Oportunidades na Educação Contemporânea

Datas: 18 e 19 de setembro de 2023

Mais informações em https://congressosesisp.com.br

Programação detalhada em https://congressosesisp.com.br/programacao

 


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