Cerca de 130 estudantes do Ensino Articulado Sesi-Senai, também concluintes do Ensino Médio, deixam suas contribuições em formato de pesquisas científicas aplicáveis, como legado para a construção de uma escola e comunidade melhor
Por: Karina Costa, SESI-SP
17/12/202015:40- atualizado às 17:55 em 02/02/2021
Além de se dedicarem à formação na educação básica e ao curso técnico, durante os últimos dois anos, alunos do Ensino Articulado Sesi-Senai aceitaram o desafio de participar do Programa Jovem Aprendiz, cujo objetivo é desenvolver um projeto autoral, com soluções possíveis de transformar a realidade em que estão inseridos. Da primeira turma de concluintes, cerca de 130 estudantes deixam suas contribuições em formato de pesquisas científicas aplicáveis, como legado para a construção de uma escola e comunidade melhor.
Os projetos foram desenvolvidos enquanto esses alunos estiveram contratados, com direito a meio salário mínimo mensal e vale transporte, no programa que vai muito além do preparo para exercer uma função profissional. “Formar alunos críticos, que pensam, propõem e executam soluções viáveis, é algo que está inserido na filosofia da rede escolar do SESI. O resultado é a construção da autonomia progressiva, com jovens desenvolvendo exatamente o que gostariam de fazer, ideias já conectadas ao projeto de vida de cada um, e isso enche o Ensino Médio de sentido”, destacou Luiz Fernando Queiroz Melques, da Supervisão de Programas Educacionais do SESI-SP.
Estudantes desenvolveram recursos didáticos para aulas práticas nas escolas
Com dez linhas de pesquisa disponíveis para escolher e tirar um projeto do papel, Camille Vitória Rufino Marques, formanda da escola SESI de Marília (SP), se deparou com a chance de se desenvolver na área que ama e pretende seguir: a genética humana.
Para tanto, se aprofundou nos estudos da eletroforese, um tema abordado nas aulas de Biologia do segundo ano do Ensino Médio, série que estudava quando entrou para o Jovem Aprendiz. A técnica, que consiste em realizar a separação de moléculas como DNA, RNA, proteínas, lipoproteínas e enzimas, era estudada apenas na teoria, pois sua aplicação dependia do contato com um material que apresentava radiação ultravioleta, a agarose. Ao se debruçar em inúmeras pesquisas e testagens, a aluna viu que era possível a substituição pelo amido de milho combinado com outras substâncias e materiais domésticos. “Aprimorei um estudo da autora Fernanda Pinhati, misturando sal, água, detergente e álcool ao amido. Fiz inúmeros testes em casa e quando verifiquei que consegui extrair o DNA fiquei ‘doida da vida de felicidade’”, disse, animada, a aluna.
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A aluna do SESI Marília (SP), Camille, aprimorou a técnica de separação de moléculas como a de DNA com a preparação de um gel feito com amido, sal, água, detergente e álcool
Já Matheus Henrique de Oliveira, da escola SESI de Cerquilho (SP), fez de sua participação uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos de programação e robótica adquiridos no SESI, e o aprendizado obtido no curso técnico na área de Mecatrônica, do SENAI. Ele desenvolveu um kit didático utilizando o microcontrolador Arduíno para auxiliar no ensino de Eletrodinâmica na escola.
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Protótipos desenvolvidos pelo aluno Matheus, de Cerquilho (SP), como sugestão para uso nas aulas práticas de Eletrodinâmica no SESI
“Sempre busquei novos modos de aprender, e a partir do dinamismo que minha professora de física, Andréa, traz para as aulas, surgiu a chance de tornar o ensino ainda mais prático”, explicou o aluno. “Vejo o programa como uma oportunidade de inserção de novas ideias para o mundo”, opinou Matheus.
Além de projetos capazes de subsidiar a parte didática das aulas, os participantes se mostraram atentos para todo o contexto da escola ao apresentar estudos e soluções para os jardins, a alimentação dos alunos, o uso do smartphone em sala, além de um olhar apurado para as questões da comunidade em que residem. E, mesmo com a situação da pandemia, eles prosperaram no desenvolvimento de suas pesquisas. “Muitos relataram essa dificuldade e foram sinceros no que iam fazer, reportando que precisariam mudar o percurso. Ao invés de nos dizer que não dava e desistir, adaptaram as propostas e apresentaram novas soluções. Só essa atitude já demonstra que cumprimos o dever do programa”, ressaltou Luiz Fernando, parte da equipe que conduz o Jovem Aprendiz no SESI.
Experiência adquirida no percurso de aprendizagem foi ganho para os jovens
Camille destaca a organização do tempo como um ganho que teve nesse processo. “Fiquei com medo de não dar conta, pois, além de me focar no projeto, na conclusão da escola, curso técnico e pensar no vestibular, veio a pandemia e um acidente sofrido pela minha avó, então passei a ajudar minha família a cuidar dela”, comentou. “Fiquei chateada, quase desisti. Estava recebendo uma bolsa para realizar esses estudos, mas mais do que isso, queria estar feliz. Aos poucos, consegui me adaptar ao cenário e vejo como todas essas oportunidades contribuíram para meu entendimento sobre o que quero daqui para frente”, comemorou.
A aluna do SESI Marília (SP), Camille, com a avó, de quem ela ajuda a cuidar e fala com muito carinho
O formando de Cerquilho (SP), Matheus, destacou a responsabilidade adquirida por ele durante os dois últimos anos. “Comecei a prestar mais atenção nas datas, entregas, detalhes, a documentação exigida acaba sendo de um projeto de nível acadêmico. Também aprendi muita coisa sobre Língua Portuguesa, tive que estudar bastante e batalhar pelos pontos de melhora”, revelou. “Os estudantes aprenderam a escrever de forma impessoal, mas colocar a própria opinião. Também a fazer citação e refletir como construir uma voz autoral, para embasar o que estão dizendo”, complementou Luiz Fernando.
O aluno Matheus, de Cerquilho (SP), durante apresentação de seu projeto para uma banca de jurados do SESI, SENAI e convidados
Os formandos do Jovem Aprendiz, também concluintes do Ensino Médio, seguem seus caminhos com sentimento de missão cumprida. As escolas do SESI e SENAI foram incentivadas a aplicar algumas dessas ideias para as necessidades dos próximos anos letivos, deixando vivo o legado desses alunos. Além disso, novas turmas estão em andamento e novos projetos devem surgir. “Por conta da pandemia, foquei na parte documental e produzi um tutorial detalhado. O kit é de fácil aplicação e montagem, então espero que outros participantes deem continuidade, com novas opiniões, aprimorem, adaptem. Também recebi o convite da escola para dar continuidade nesse projeto em 2021 com as turmas e espero voltar”, comemorou Matheus.
Quer conhecer mais soluções criadas pelos alunos do SESI-SP, participantes do Programa Jovem Aprendiz? Então clica no vídeo e confira o projeto da aluna do SESI Vila Carrão, Vitória Costa, um aplicativo que ensina técnicas para controlar a crise em pessoas com taquicardia.